Semana passada estava no velório da
minha tia avó, observava as pessoas e os seus comentários, histórias e
lembranças a respeito dela, meus tios, tias, primos, estavam sentidos e
compartilhavam de uma mesma dor. Não posso mensurar a profundidade dos
sentimentos e não me cabe julgar, mas creio que todos sentem a ausência dos
ente querido.
Enquanto as pessoas conversavam e
compartilhavam suas memórias fui traçando um perfil com relação a minha tia,
não dela propriamente, mas dos seres humanos que desenvolvem sua história de
vida, onde essa mesma se entrelaça com a de muitas outras pessoas.
Lembrei de sua experiência de vida
e dos momentos em que a história dela se entrelaçou a minha, dos momentos que
compartilhamos, e embora fosse avançada em dias, não foram muitos momentos, mas
sempre marcaram minha vida, sua vida foi intensa, sua história reflete a
história de uma pessoa batalhadora, que vencia suas adversidades com fé e com
uma força de vontade viver invejável.
O fato é que a vida é como uma peça
de teatro é separada por atos, e esses são assistidos, apreciados e
compartilhados por aqueles que estão próximos. E embora o tempo dos atos sejam
diferentes, uma hora a peça termina, por mais longos que possam ser, possuem um
mesmo desfecho.
Não sou uma pessoa que gosta de
cemitério, gosto de lembrar das pessoas vivas, fortes e saudáveis, penso que a
morte tem o poder de humilhar o homem, trazer à sua realidade a mortalha que
envolve seu espírito humano, e que se faz putrefata diante da ausência da alma.
Olhando aquele caixão descendo ao sepulcro, pensei, sendo a vida dividida em
atos é a morte o último deles.
É claro que creio na vida após a
morte, a vida não teria sentido, se acabasse
com a morte. Mas falo desta realidade, falo do cronos, e no cronos a
morte é o último ato da vida. É uma realidade na vida de todo ser vivo, que
amedronta intimida e frustra os projetos humanos.
O que digo é que a morte é
inevitável e todos se encontrarão com ela em algum momento de sua existência,
mas o importante é de como você chega ate ela.
Que atos são escritos durante seu tempo sobre a face da terra e
qualidade do legado que você deixa evidenciando a sua passagem, pois quando
chega o último ato nada mais pode ser feito, encerrou esse tempo, começa um
novo, num novo lugar, numa nova dimensão, numa nova realidade. Essa realidade e
o destino dos pós mortem e definido aqui, no palco da vida, antes do último
ato.