terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O ÚLTIMO ATO DA VIDA


Semana passada estava no velório da minha tia avó, observava as pessoas e os seus comentários, histórias e lembranças a respeito dela, meus tios, tias, primos, estavam sentidos e compartilhavam de uma mesma dor. Não posso mensurar a profundidade dos sentimentos e não me cabe julgar, mas creio que todos sentem a ausência dos ente querido.
Enquanto as pessoas conversavam e compartilhavam suas memórias fui traçando um perfil com relação a minha tia, não dela propriamente, mas dos seres humanos que desenvolvem sua história de vida, onde essa mesma se entrelaça com a de muitas outras pessoas.
Lembrei de sua experiência de vida e dos momentos em que a história dela se entrelaçou a minha, dos momentos que compartilhamos, e embora fosse avançada em dias, não foram muitos momentos, mas sempre marcaram minha vida, sua vida foi intensa, sua história reflete a história de uma pessoa batalhadora, que vencia suas adversidades com fé e com uma força de vontade viver invejável.
O fato é que a vida é como uma peça de teatro é separada por atos, e esses são assistidos, apreciados e compartilhados por aqueles que estão próximos. E embora o tempo dos atos sejam diferentes, uma hora a peça termina, por mais longos que possam ser, possuem um mesmo desfecho.
Não sou uma pessoa que gosta de cemitério, gosto de lembrar das pessoas vivas, fortes e saudáveis, penso que a morte tem o poder de humilhar o homem, trazer à sua realidade a mortalha que envolve seu espírito humano, e que se faz putrefata diante da ausência da alma. Olhando aquele caixão descendo ao sepulcro, pensei, sendo a vida dividida em atos é a morte o último deles.
É claro que creio na vida após a morte, a vida não teria sentido, se acabasse  com a morte. Mas falo desta realidade, falo do cronos, e no cronos a morte é o último ato da vida. É uma realidade na vida de todo ser vivo, que amedronta intimida e frustra os projetos humanos.
O que digo é que a morte é inevitável e todos se encontrarão com ela em algum momento de sua existência, mas o importante é de como você chega ate ela.  Que atos são escritos durante seu tempo sobre a face da terra e qualidade do legado que você deixa evidenciando a sua passagem, pois quando chega o último ato nada mais pode ser feito, encerrou esse tempo, começa um novo, num novo lugar, numa nova dimensão, numa nova realidade. Essa realidade e o destino dos pós mortem e definido aqui, no palco da vida, antes do último ato.