Ontem foi ao cinema com meu rebento e minha amada esposa, fizemos um programa família, algo que tem sido raro em minha vida, e que pretendo mudar com urgência. Fomos assistir um desenho infantil, muito interessante e que particularmente gosto muito, chama-se: Como Treinar o Seu Dragão 2. Uma aventura com uma criatura que nem existe, figura apenas na literatura mitológica dos tempos antigos, mas nos traz profundas lições. Entendo que a maioria das pessoas, talvez não possam apreciar o universo de verdades existenciais exposta no filme, não sei se a proposta do autor era realmente apresentar tais verdades, mas o creio, a partir do que pude observar. Na primeira fase da aventura, já há muito a aprender, como o uso correto dos recursos naturais, o respeito aos animais, como seres vivos, participantes do universo maior da criação, a importância da vida em sociedades constituídas e a interdependência dos seres humanos, mas tudo fica muito oculto no desenrolar do processo lúdico.
Na segunda aventura o lúdico não desaparece totalmente, mas o absoluto - o que chamo de absoluto neste vem a ser o desnudar da realidade frente ao imaginário infantil - , ou seja, a realidade nua e crua da existência humana, passam a dar lugar a visão infanto-juvenil do antes adolescente, e agora homem Soluço, nome do personagem principal. Sua inocência pueril se confronta com a realidade da face do mal, agora representada por seu personagem antagônico Drago, que se identificou com a sua sombra - parte negativa e obscura da personalidade humana, ver Carl Jung - trazendo a Lume o seu lado sombrio, a partir de uma experiencia negativa circunstancial da sua vida. Ele percebe com a morte do seu pai, que a vida não pode ser um conto de fadas, onde tudo dá sempre certo, onde as consequências dos atos humanos não impõem uma severa justiça àqueles que se opõe ao lógico e ao natural. Do reencontro com a mãe e a felicidade absoluta, à tristeza profunda pela morte de seu amado pai, o paradoxo da vida. Vida e morte passam a estar presente de maneira madura nesta segunda parte da aventura, como se o autor estivesse trazendo as crianças do mundo do imaginário ao mundo real, sem tirar delas a beleza do lúdico, de forma a promover um amadurecimento progressivo, através da apresentação dos processos de crescimento e conhecimentos humanos. Da figura do mitológica dos dragões e suas relações à critica das sociedade e poderes políticos Constituídos em suas relações interpessoais, preservando a inocência pueril da infância através da fábula.
Realmente um filme fantástico para divertir o público infantil e para trazer reflexão aos pais. Um excelente programa familiar.
Peço desculpas se filosofei e estraguei algo que deveria estar no imaginário, mas a muito não posso mais me privar da observação no que tange a ontologia humana e seu comportamento antropológico. De qualquer forma em diverti muito, comunguei com minha família e ainda sim pude aprender mais com um cineminha em família. Se tiver oportunidade, assista vale a pena.
Deus abençoe a todos.