Estamos
acompanhando a desesperada e ostensiva campanha da prefeitura do Rio de Janeiro
para internação compulsória de viciados em crack que se encontram espalhados
pelas praças, viadutos e avenidas da cidade maravilhosa. A pergunta que se
deveria fazer nesse momento é: “Só agora a sociedade constituída, os poderes
públicos, a saúde coletiva, se deu conta da existência desse quadro?” O número
de viciados em crack cresce assustadoramente faz muito tempo, os acúmulos de
pessoas nesses locais não nasce da noite para o dia, são anos de descaso
público, são anos de indiferença, agora, perto de dois grandes eventos mundiais,
os poderes resolvem “ajudar” as pessoas perdidas no consumo de crack. Qual a
verdadeira intenção por traz disso? Trata-se de uma epidemia, que destrói todo
tipo de gente, de todas as classes sociais, o problema deixou de ser da família
e passou a ser do Estado? Por que só agora? Será que depois de passar a Copa do
Mundo e as olimpíadas, o governo manterá seu interesse no “bem” dessas pessoas?
Estará o governo do município e o estado preocupado em ajudar as famílias a
recuperarem seus entes queridos? São uma ameaça à sociedade ou a imagem dos
ricos empresários que vão lucrar com a chegada de muitos estrangeiros a cidade
para acompanhar tais eventos. Deveríamos nos questionar se o consumo
indiscriminado de crack e a constituição de uma sociedade a margem da sociedade
não se trata de uma atitude de indiferença, e desamor à vida, o apego pelo
indivíduo, pelo ser humano, ou um simples problema de saúde da população.
O problema não será resolvido com
internações compulsórias de dependentes, pois sempre haverá novos consumidores
de crack, é evidente que o tratamento não é 100% eficaz, e que poucos dos
muitos mandados para tratamento realmente se livram da dependência. Tenta-se
apagar um incêndio de grandes proporções jogando água nas pontas sem acessar o
foco e conter a sua fúria, esta a verdadeira causa do problema que alimenta o
fogo, apaga-se um pouco e volta acender.
Se verdadeiramente houvesse
interesse em mudar o quadro, se desejassem realmente ajudar ao invés de “ajudar”,
poderiam sim conter o verdadeiro foco, é preciso combater o foco, o tráfico de
drogas e não se faz isso apenas usando o aparelho de repressão do estado, é
preciso muito mais do que isso, é necessário uma mudança de caráter do
indivíduo para que o traficante não deseje ser um marginal e deseje ser um
membro produtivo da sociedade, para tal é necessário que os poderes públicos
invistam na reconstrução do indivíduo, isso é possível, há recursos para
fazê-lo, mas não existe disposição para tal.
Para que haja mudança de caráter
é necessário, convencer as pessoas que o crime não compensa, é necessário
formar um caráter moral com valores bem definidos, pregando o amor ao próximo,
dando o devido valor a vida, isso só é possível com educação, saúde,
alimentação, vestuário e lazer. Não se resolve um problema desses criando
depósitos de gente (Clínicas para tratamento), cheios de desamor e indiferença, apenas procurando esconder
um estado putrefato de doença e marginalidade. É preciso valorizar as pessoas e
não a imagem. As pessoas são mais importantes que a imagem, que o consumo,
que a economia, tudo deveria ser feito em prol de se criar cidadãos honestos,
não por imposição da força, mas pela consciência moral do indivíduo que deve
ser constituída por valores verdadeiros e não fúteis e passageiros, mas isso é
um discurso superado, vamos erradicar a miséria escondendo debaixo dos trapos
nossas pústulas morais. Enquanto não houver consciência coletiva, problemas como
esse não serão resolvidos, mas sempre se estenderão corroendo como um câncer a
sociedade hodierna, até que não haja mais nada para corroer e aí tudo venha a ruir,
e das ruínas tente se levantar uma nova sociedade, mentecapta e doente que
culminará numa nova ruína.
Que as pessoas possam consultar
suas consciências e cobrar do poder público aquilo que é o certo o direito, que
a sociedade não troque seu voto por favores que na verdade são direitos de
todos os cidadãos, sejamos um país de homens e mulheres descentes e não
hipócritas indiferentes às necessidades do nosso próximo. Senão veremos novas e
novas cracolândias nascerem por todos os lugares, estados e cidades do país, e
veremos filhos e filhas relegados ao relento e a destruição de sua dignidade e
vida. É preciso colocar a mão na consciência rápido e se manifestar logo, pois
o tempo urge quando não se pode fazer mais nada, e só o caos e o colapso
resolverão.
Deus abençoe a todos.
Pr. Emerson