quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A DESGRAÇA ALHEIA ATRAI AS PESSOAS

"É sangue mesmo não é mertiolate, todos querem ver e comentar a novidade, tão emocionante um acidente de verdade... olha o tumulto façam fila por favor...”

Esse é um trecho da música metrópole, da banda Legião Urbana. Estava em casa ontem baixando um vídeo de uma entrevista de meu filho ao jornal local, quando de repente ouvi um estampido, ou melhor, um estrondo bem grande. A princípio pensei tratar-se de tiros, mas imediatamente deduzi que não podia ser porque era muito alto, olhei pela janela e ouvi um tumulto grande, mas não vi nada, em poucos minutos, três ou quatro, para ser mais preciso, ouvi um grande barulho de sirenes do corpo de bombeiros que tomavam o quarto, um, dois, caminhões e uma ambulância, deduzi, é um incêndio, voltei para meu trabalho, minha esposa me chama, é um incêndio, na EXPERT, empresa de transporte de valores que se localiza do outro lado da calçada dois lotes para a esquerda, polícia bombeiros e em poucos minutos uma multidão, pelo menos umas trinta ou mais pessoas se posicionavam a frente da empresa para ver o acontecido, todos na expectativa de ver o resgate das vítimas torcendo pra que alguém fosse salvo, tirado da fumaça negra que impregnava o ambiente, ou mesmo morrido para que pudessem lamentar.

Os bombeiros com toda a habilidade que lhes é peculiar controlaram a situação, os boatos de que havia alguém preso, pessoas que não conseguiram sair pois estavam presos por portas automáticas travadas, uma situação densa, e todos “satisfeitos com o sucesso do desastre.”. Estava sem inspiração para escrever meu artigo dessa semana. Então voltei-me para dentro e lembrei da canção que descrevi, veio então a inspiração, a gana que o ser humano tem de observar com atenção e registrar a desgraça alheia, não sei como terminou, não fiquei lá, não havia nada que pudesse fazer e as pessoas capacitadas para ajudar estavam lá.

Mas uma reflexão me veio a mente as pessoas esperam ansiosas para que algo de ruim aconteça para afirmarem suas fases de efeito “sabia que isso um dia ia acontecer...” ou “é difícil trabalhar num lugar com tanta segurança...” ou “algum irresponsável vacilou na segurança...”, mas independente disso o que observei é que a desgraça alheia produz uma satisfação visual e aguça a curiosidade humana.

Projetos sociais, ajuda aos necessitados, recuperação de vidas de pessoas que estavam na miséria ou na sarjeta não dão ibope, mas a desgraça não, esta é um convite para satisfação interior da alma humana. Isso me envergonha.

Por causa disso temos uma empresa sensacionalista que não escreve sobre as boas coisas da vida, pois essas não vendem, mas a desgraça, essa vende e muito, isso só comprova a teologia de que o homem em sua natureza é mau.

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